Abram-se os ninhos! Aprumem-se alados! O show vai começar!
Como, quando e onde? Porque, quanto ?
Dando sequência ao tema Samba de Enredo, iniciado semanas antes em nosso confessionário, deixo o conforto do ninho mais uma vez, e desta, para falar à respeito das gravações dos Sambas.
Primeiro há de se salientar que eu não sou contra a tecnologia e muito menos contra o investimento, porém, venho notando que grandes gravações dos sambas concorrentes em disputa continuam a influenciar de maneira errada os sambistas que acompanham aquele que talvez seja o mais complicado dos processos de uma agremiação na montagem do carnaval: A Escolha do Hino Oficial!
A discussão à respeito das gravações, obviamente, nos levará direto para a ultima parte da coluna, que tratará da disputa em si, e portanto, servirá de reflexão para que possamos ao fim de tudo encontrar respostas, ou mais duvidas, para o assunto.
Ja havia demonstrado la no primeiro post minha insatisfação com o fato do nome dos compositores hoje pesar diretamente sobre a avaliação dos sambistas e reforço que infelizmente bons compositores com belas obras tem seus sambas ignorados pelo público e pelas escolas durante a disputa por falta daquilo que falsamente chamam de know-how!
É óbvio que uma bela gravação, com um grande interprete, grandes arranjos, uma produção de primeira linha, videos ilustrativos e interativos, influenciarão na escolha do público.
Primeiro porque estamos mal acostumados a digerir a música industrializada, pronta, embalada a vácuo e transmitida pelos veículos.
Segundo porque o crescimento do espetaculo do Carnaval causa a sensação inconsciente e coletiva de que sofisticação no sentido de luxo é garantia de sucesso.
Mas ai eu vos pergunto: E quando os arranjos se vão, os pavarotes se calam, os estudios se transformam em salas sem teto, sem recursos eletrônicos e a vóz do público é quem tem que determinar o desempenho? Indo mais fundo: E quando a linda gravação de 5:30 minutos de duração, se transforma num ensaio de 65:00 minutos?
Muitas vezes o que acontece, é uma queda de rendimento, de qualidade, de apreciação por parte daqueles que abraçaram a obra e por consequência, um desempenho ruim em desfile.
Mais do que nunca é chegada a hora de deixarmos de lado os vicios contemporaneos, as persistentes padronizações de qualidade e atentarmos-nos para o que realmente interessa: Letra, Melodia, Fluência, Identidade e Possibilidade.
Não confudam Papagaios com Maritacas! Saba bom é samba bom, samba ruim é samba ruim. Basta avaliar com os critérios corretos para que separe-se o joio do trigo. As vezes, o não tão enfeitado papagaio, que parece meio capenga, meio selvagem, se torna a companhia mais agradável, enquanto a bela Maritaca, singela e exuberante, com suas cores difusas e bicos platinados, pode se tornar inconveniente e desagradavel.
Faço um apelo as escolas, hoje, e sustentarei até o dia em que meu bico for quebrado por algum estilingue:
Proibam as gravações! Levem o interprete oficial para o estúdio e gravem os sambas e depois ensaiem com eles durante a disputa!
Só assim saberemos qual é realmente o dono do puleiro, e ai, a escolha não se baseará apenas na preferencia de quem opta por um papagaio ou uma maritaca ao olhar uma vitrine. Até porque, assim como o animal na vitrine, a gravação de concorrente, serve apenas para atrair o público. O objetivo final, só será alcançado, pela escolha correta, e essa só se faz, quando o objeto de desejo vai de encontro as expectativas.
Para ilustrar o tópico, duas gravações de um mesmo samba. Uma é a original, da disputa, sem grandes apetrechos. A outra é a filmagem do Ensaio técnico com o samba em funcionamento, mostrando seu poder de fogo. Papagaio velho, mas que não se troca por nenhuma maritaca...
Vila Isabel 2010 Enredo: Noel, a presença do poeta da Vila
Autor: Martinho da Vila
Se um dia na orgia me chamassem Com saudades perguntassem Por onde anda Noel Com toda minha fé responderia Vaga na noite e no dia Vive na terra e no céu Seus sambas muito curti Com a cabeça ao léu Sua presença senti No ar de Vila Isabel Com o sedutor não bebi Nem fui com ele a bordel Mas sei que está presente Com a gente neste laurel
Veio ao planeta com os auspícios de um cometa Naquele ano da Revolta da Chibata A sua vida foi de notas musicais Seus lindos sambas animavam carnavais Brincava em blocos com boêmios e mulatas Subia morros sem preconceitos sociais
(Foi um grande!)
Foi um grande chororô Quando o gênio descansou Todo o samba lamentou Ô ô ô Que enorme dissabor Foi-se o nosso professor A Lindaura soluçou E a Dama do Cabaré não dançou Fez a passagem pro espaço sideral Mas está vivo neste nosso carnaval Também presentes Cartola Araci e os Tangarás Lamartine, Ismael e outros mais E a fantasia que se usa Pra sambar com o menestrel
Tem a energia da nossa Vila Isabel Tem a energia da nossa Vila Isabel
Gravação original na vóz do compositor Martinho da Vila:
Samba de Enredo cantado pela Escola na Marques de Sapucai:
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